5º Dia em Fernando de Noronha – A Estrutura da Ilha e um Mergulho no Porto

O dia amanheceu perfeito. Pela manhã fui até o hospital fazer umas fotos e conhecer um pouco sobre o dia-a-dia das pessoas que moram por aqui. Descobri muitas coisas interessantes, tais como inúmeros casos de depressão. Pois é, você deve estar se perguntando o mesmo que eu pensei naquele momento: “Mas como alguém tem depressão morando em Fernando de Noronha?”. Vamos pensar um pouco.

A distância da família, o isolamento na ilha, a falta de centros de lazer e serviços, são apenas alguns dos motivos que podem levar o morador local a problemas psicológicos como este. Pensando nisso, um grupo de psicólogos trabalham semanalmente com estas pessoas ajudando-os a resolver este e outros problemas pessoais. Em Noronha todos se conhecem. As pessoas vivem as vidas dos outros. É como uma cidade pequena de interior, ou uma vila de estudantes, ou ainda um condomínio fechado. Imaginem os problemas e entenderão. O alcoolismo, as drogas e a prostituição também são alguns dos problemas comentados por vários moradores com quem conversei.

Na ilha todos os serviços estão ligados de certa forma ao turismo, direta ou indiretamente. São pousadas, restaurantes, mercados, cybercafés, locadoras de carros, receptivos, guias de trilhas, barcos de passeios, operadoras de mergulho, e muito mais. Existem órgãos locais que fiscalizam e administram de forma ordenada esse crescimento. Os grupos de passeios saem de forma organizada, fazendo com que os pontos de interesse não estejam lotados. Claro que isso funciona até um certo ponto. Na alta temporada esses grupos se dispersam fazendo roteiros diferentes a cada dia para não juntar todos nos mesmos lugares.

A água e a energia também são um problema local. Hoje, um açude e um centro de dessalinização da água dão conta de todo o abastecimento da ilha até mesmo na alta temporada. Mas é preciso usar de forma responsável, sustentável e consciente. Também existe uma usina elétrica com geradores que alimentam toda a ilha. Existia também uma turbina que gerava energia com a força dos ventos. Porem, recentemente, um raio atingiu a mesma, destruindo-a. Com o apoio do governo do estado e de empresas credenciadas, foram sorteadas 20 pousadas que receberam painéis solares. Estas placas acumulam energia que ajudam no aquecimento dos banhos quentes e no ar condicionado que a grande maioria das pousadas possuem em seus quartos. Mas fica a dica: usem com moderação!

Planejei para o final da tarde de mergulhar na Baía do Sueste para tentar ver as tão famosas tartarugas marinhas. Mas antes, para esperar a maré subir, passei na pousada e encontrei com a Karen que me convidou para conhecer um cantinho da Praia do Cachorro que possui uma piscina natural de 3m de profundidade. É claro que aceitei o convite e fui conferir de perto. A tal piscina existe mesmo. Porem eu a chamaria de uma jacuzi particular. Vou tentar descrever. Imaginem um poço com aproximados dois metros de raio, debaixo de uma parede natural de pedras vulcânicas, parcialmente protegida pelo sol, alimentada com água do mar que vem através das ondas que chocam bem próximas, com um visual de toda a Praia do Cachorro e Praia do Meio, e de quebra o Morro do Pico e a Pedra do Peão. É isso. Sem mais palavras. É Fernando de Noronha.

Depois de relaxar nesta Jacuzi inacreditável, era a hora de ir ao Sueste. Pegamos um ônibus que faz o trajeto em menos de 10min por pouco mais de três reais. Chegando lá, fomos informados que a praia ainda não se encontrava com a visibilidade necessária para que fosse possível nadar com as tartarugas. Ainda não foi dessa vez. Pegamos novamente o ônibus, e fomos tentar a sorte na Praia do Porto. Parecia a melhor idéia naquele momento. E FOI! Em menos de 5min na água, avistamos duas cabeças surgindo a nossa frente para respirar. Eram elas. Finalmente. A sensação é maravilhosa. Pronto, de agora em diante, tudo que aparecer é bônus. Nadei em meio a cardumes, vi peixes super coloridos, vi também um peixe-agulha, uma arraia pequena, etc. E detalhe, a visibilidade não estava das melhores. Decidimos voltar para a areia e ir assistir os pescadores jogarem os restos de peixes no mar. Este evento ocorre diariamente por volta de 5:30 da tarde e atrai não apenas turistas, como tubarões, arraias gigantes e atobás, que disputam cada pedaço que encontram nas águas. Muito legal. Vale a pena.

Em seguida fomos visitar novamente o Museu dos Tubarões, mas desta vez para provar o famoso “Bolinho de Tubalhau”. No cardápio, sanduíches, petiscos e pratos como a “Tubalhoada” garantem esta orgia gastronômica.

De volta pra pousada para tomar banho, lavar todo o material de mergulho, arrumar as coisas e ir para a imperdível palestra do Tamar. O tema de hoje fui com um convidado especial que falou sobre “O Projeto Mastodonte: Mergulho em Cavernas na Serra da Bodoquema, no Mato Grosso do Sul”. Foi muito legal. Quando acabou, fui jantar e voltei para a pousada para dormir com a sensação de mais um dia de muitas descobertas.

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